Quem são verdadeiramente as duas Testemunhas do Apocalipse?

03/08/2020 15:50

                       

 

E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco.
Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra.


Apocalipse 11:3,4
 
Todos os leitores deste blogue sabem que nos dedicamos quase que exclusivamente a estudar Cristologia, isto é, a uma parte da teologia cristã que estuda e define a natureza de Jesus, a doutrina da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Por essa razão abordamos mais matérias que se relacionam com os livros de Mateus, Lucas, Marcos e João. Mas devido a muita confusão no meio cristão sobre a questão das duas testemunhas mencionadas em Apocalipse 11 e a atualidade da questão, decidimos dar o nosso parecer sobre este assunto.
A curiosidade sobre quem são as duas testemunhas do Apocalipse é um tema bastante discutido entre os cristãos. Essas duas testemunhas são mencionadas num capítulo do Apocalipse que descreve um contexto de perseguição contra o povo de Deus (Apocalipse 11). Em harmonia com o restante do livro, esse capítulo traz muitas informações, e é caracterizado pelo uso de linguagem simbólica só acessível a estudantes sérios da escritura. Apesar dos detalhes, a identidade das duas testemunhas não é revelada diretamente.
 

O que a Bíblia diz sobre as duas testemunhas?

 
Resumindo, o autor do Apocalipse informa que as duas testemunhas recebem poder divino para profetizar por mil duzentos e sessenta dias (Apocalipse 11:3). Em seguida, as duas testemunhas são identificadas com “duas oliveiras e dois castiçais que estão diante do Deus da terra”. Também é dito que se alguém fizer mal às duas testemunhas, sairá fogo de sua boca. Esse fogo devorará os seus inimigos, pois quem lhes fizer mal, deverá ser morto (Apocalipse 11:4,5).
Além disso, também é dito que as duas testemunhas recebem poder para fazer milagres. Mas quando acabar o seu testemunho, a besta que sobe do abismo fará guerra contra as duas testemunhas. Essa besta vencerá as testemunhas e as matará.
Os corpos das duas testemunhas serão vistos por homens de todas as partes da terra por um período de três dias e meio. Também não será permitido que seus corpos sejam sepultados. Então as pessoas celebrarão a morte das duas testemunhas. Eles presentearão uns aos outros, porque a profecia das duas testemunhas tinha atormentado os habitantes da terra (Apocalipse 11:9,10).
Mas depois de três dias e meio, Deus concederá espírito de vida novamente às duas testemunhas. Elas se levantarão e os homens ficarão atemorizados. Então a terra ouvirá uma grande voz do céu chamando as duas testemunhas. E assim elas subirão ao céu em uma nuvem, na presença de todos os seus inimigos (Apocalipse 11:12).
 

As diferentes interpretações sobre as duas testemunhas do Apocalipse

Existem realmente muitas interpretações que tentam explicar quem são as duas testemunhas. Muitas dessas interpretações que surgiram ao longo da História do Cristianismo foram defendidas por cristãos sinceramente comprometidos com a Palavra de Deus. Neste texto, para não o tornar demasiado extenso, não iremos expor essas interpretações, mas é válido lembrar que, por conta da dificuldade do tema, é importante que haja respeito com quem defende uma interpretação diferente da nossa.
Além do mais, estes são pontos secundários em que divergências de interpretações não representam qualquer problema com relação à mensagem central das Escrituras. Descobrir quem são as duas testemunhas não significa uma das doutrinas principais da fé Cristã.
 

Quem são as duas testemunhas do Apocalipse realmente?

As duas testemunhas aparecem em um texto difícil, num livro escatológico que emprega muita simbologia em sua linguagem profética. Particularmente, cremos que a interpretação mais coerente sobre a identidade das duas testemunhas, à luz da Bíblia, é aquela que diz que as duas testemunhas simbolizam toda a Igreja verdadeira. Esta visão é amplamente aceita dentro da teologia reformada e diz que as duas testemunhas são um símbolo da verdadeira Igreja de Cristo. Então as duas testemunhas representam no texto do Apocalipse toda a Igreja militante no fim dos tempos. Como foi dito, nem todos concordarão com a nossa posição, mas isto é algo muito comum quando o assunto é escatologia.

Iremos apresentar, resumidamente, alguns pontos fundamentais que nos levam a entender que as duas testemunhas representam a Igreja do Senhor:

 

As duas testemunhas e o estilo literário do Apocalipse

O livro do Apocalipse é muito rico em simbologia, e esse padrão permeia o conteúdo do livro inteiro. Cremos que para uma interpretação coerente desse livro, não podemos literalizar a 100% um texto nitidamente simbólico. No próprio capítulo 1 do Apocalipse, já temos um aviso claro que haverá muita simbologia, e que não devemos tentar interpretá-las de forma literal (Apocalipse 1:20).
Outra característica marcante do Apocalipse é o extenso uso de conteúdo do Antigo Testamento na composição do livro. João escreveu para irmãos que conheciam profundamente as Escrituras (servos de Jesus Apocalipse 1:1), e que só assim poderiam perceber e interpretar tais ocorrências, interpretando as simbologias utilizadas. Obviamente o texto sobre as duas testemunhas se enquadra em todo esse padrão. Aliás convém recordar uma importante regra hermenêutica na intepretação das escrituras: É A BÍBLIA QUE INTERPRETA A PRÓPRIA BÍBLIA.
Sendo assim, considerando o padrão simbólico do livro do Apocalipse e sua fundamentação no Antigo Testamento, o capítulo 11 pode ser interpretado de uma forma mais coerente sem apelar para algo totalmente literal que destoa desse padrão já estabelecido. 
 

O fato de serem duas testemunhas

 
Alguém pode perguntar: Por que duas testemunhas? Não poderia ser apenas uma? Não poderiam ser três? Naquela época, um processo só teria validade se fosse fundamentado no testemunho de pelo menos duas pessoas (Números 35:30; Deuteronómio 17:6; Mateus 18:16; Hebreus 10:28).
Logo, a referência às duas testemunhas indica a credibilidade e veracidade de suas palavras. Essa interpretação corresponde ao relato de Lucas 10:1, quando Jesus separou os setenta discípulos em dupla, enviando-os de dois em dois como seus missionários. Embora não seja conclusivo, a expressão “duas testemunhas” pode muito bem enfatizar a tarefa missionária da Igreja.
 

Vamos então passar à análise dos termos e respetivas simbologias do texto bíblico

 
1) As testemunhas são os cristãos verdadeiros (judeus e gentios)
 
“Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra.’” (Atos 1:8)
“‘Vocês são minhas testemunhas’, declara o Senhor, ‘e meu servo, a quem escolhi, para que vocês saibam e creiam em mim e entendam que eu sou Deus. Antes de mim nenhum deus se formou, nem haverá algum depois de mim.’” (Isaías 43:10)
“Vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus. Quando a vi, fiquei muito admirado.” (Apocalipse 17:6)
 

2) As duas oliveiras são gentios e judeus convertidos a Cristo

Além do mais, as duas testemunhas são identificadas com duas oliveiras e dois castiçais (ou candelabros). Essas mesmas figuras são encontradas em Zacarias 4:1-7. Na profecia de Zacarias podemos ver que Deus diz que as duas oliveiras são:
“Representam os dois ungidos que estão ao serviço do Senhor de toda a Terra.”
Zacarias 4:12
Depois no livro de Romanos vemos também que são referidas duas oliveiras, uma brava e a outra natural, também sobre isso temos explicação na própria escritura:
“Que dizer, se ele fez isto para tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios?” 
Romanos 9:23-24
“Se alguns ramos foram cortados, e você, sendo oliveira brava (referindo-se ao gentios), foi enxertado entre os outros e agora participa da seiva que vem da raiz da oliveira (judeus), não se glorie contra esses ramos. Se o fizer, saiba que não é você quem sustenta a raiz, mas a raiz a você.” 
Romanos 11:17-18
 

3) Os dois candelabros são igrejas

 
“Voltei-me para ver quem falava comigo. Voltando-me, vi sete candelabros de ouro e entre os candelabros alguém semelhante a um filho de homem, com uma veste que chegava aos seus pés e um cinturão de ouro ao redor do peito… Este é o mistério das sete estrelas que você viu em minha mão direita e dos sete candelabros: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros são as sete igrejas.” 
Apocalipse 1:12-13, 20
 
Sendo assim parece ficar claro que as duas testemunhas apontam para a verdadeira igreja cristã, que é constituída por:
 1) Judeus convertidos -  Oliveira Natural 
2) Todos os outros dos povos convertidos (gentios) - Oliveira Brava
 

O fogo que saiu da boca das duas testemunhas

 
O texto bíblico diz que sai fogo da boca das duas testemunhas. Obviamente este é outro ponto que não deve ser interpretado de forma literal. Mais uma vez temos uma passagem do Antigo Testamento nos ajudar a entender esta questão.
A Bíblia diz que o fogo do juízo e de condenação saiu da boca do profeta Jeremias para devorar os inimigos de Deus. Esse fogo era um símbolo da palavra pronunciada por Jeremias (Jeremias 5:14). No Apocalipse, o mesmo princípio é utilizado para se referir ao fato de que a Igreja, através de seus ofícios, anuncia os juízos de Deus e condena os ímpios com base na Palavra do Senhor. 
 

O poder sobrenatural das duas testemunhas

Vimos que as duas testemunhas possuem poder sobrenatural. Da mesma forma, a autoridade conferida à Igreja, através de seu ministério, expõe o mundo ímpio que rejeita a mensagem do Evangelho ao julgamento e condenação por parte de Deus.
Isso é uma verdade real ensinada nas Escrituras. O Senhor envia punição ao mundo iníquo em resposta às orações da Igreja (Apocalipse 8:3-5). Ele assegura que a Igreja verdadeira tem autoridade de trazer juízo, pelo ofício de levar o Evangelho genuíno diante do mundo (cf. Mateus 16:19; 18:18,19; João 20:21-23).
O próprio versículo 5 do capítulo 11 deixa claro que qualquer um que causar danos aos verdadeiros seguidores de Cristo, será igualmente destruído. Por isso os inimigos das duas testemunhas perecem, porque eles são inimigos da Palavra que elas proclamam.
 

As duas testemunhas são mártires

A palavra grega traduzida por testemunha é martyria, que também significa “mártir” e “proclamador”. Esse termo sempre é empregado ao povo de Deus no livro do Apocalipse. O texto bíblico de Apocalipse 11 também informa que as testemunhas são derrotadas aos olhos dos homens. Elas morrem e seus corpos ficam expostos enquanto o mundo comemora.
Já em Apocalipse 13, somos informados que a besta faz guerra contra os santos e os vence. Porém, vemos que esse período de aparente derrota dura pouco (Mateus 24:22; Apocalipse 20:7-9). Assim entendemos que esse será o período onde a Igreja será duramente perseguida. Como uma instituição da forma como nos organizamos hoje, ela desaparecerá do mundo. Nesse período os cristãos nominais mostrarão sua falsa fé ao renunciarem o Evangelho, e os verdadeiros cristãos serão perseguidos, presos e muitos até mortos.
Isso significa que aos olhos dos homens a Igreja estará por baixo. Porém, à medida que o sangue dos santos é derramado, acontece a vitória que os olhos humanos ainda não veem (Apocalipse 12:11). Esse é o período anunciado por Jesus, o qual Ele chamou de “grande tribulação” em seu sermão escatológico (Mateus 24; Marcos 13; Lucas 21).apóstolo Paulo se referiu a esse mesmo período como “a apostasia” (2 Tessalonicenses 2:3).
O próprio Jesus enfatizou que esse será um momento tão difícil, que se os dias não fossem abreviados, nem mesmo os escolhidos suportariam. Esse momento acontecerá exatamente na hora determinada por Deus, no dia em que as testemunhas terão terminado o seu testemunho (Apocalipse 11:7).
Os corpos das duas testemunhas serão expostos na praça da grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o nosso Senhor foi crucificado (Apocalipse 11:8). Essa descrição simbólica significa que a Igreja parecerá morta no meio do mundo anticristão. Isso fica claro pelas cidades utilizadas nesse símbolo.
 

As duas testemunhas ressuscitam

O mundo estará comemorando por acreditar ter vencido a Igreja e silenciado sua voz. O Evangelho não estará mais atormentando os habitantes da terra. Mas é nesse cenário que as duas testemunhas são ressuscitadas, ficam de pé e são chamadas ao céu.
Perceba que em Apocalipse 11:15 o toque da sétima trombeta anuncia a introdução do dia do juízo. A ressurreição das duas testemunhas simboliza de forma maravilhosa a segunda vinda de Cristo com o arrebatamento da Igreja aos céus. A Igreja que parecia derrotada, em meio a um mundo completamente anticristão, agora é levantada vitoriosa e ascende ao céu numa nuvem de glória. Note a expressão: “e os seus inimigos os viram”.
Logo em seguida, ocorre um grande terremoto precedendo o momento do juízo, e o pavor dos ímpios é revelado. O texto diz que os ímpios até darão glória ao Deus do céu (Apocalipse 11:13). Mas essa glória que eles darão não significará uma conversão. Ao contrário disso, essa glória dada pelos ímpios será um indicativo do terror que tomará conta de seus corações.
As duas testemunhas, que há pouco pareciam mortas, agora são levadas ao céu. Esse é o momento descrito por Paulo em 1 Tessalonicenses 4:16,17 e 1 Coríntios 15:52. Os perseguidores que contavam vitória se apavorarão ao contemplarem o triunfo da Igreja sobre a proteção do Deus irado que se assenta no trono.
As testemunhas, antes perseguidas, finalmente serão glorificadas. Elas também receberão a tarefa de participarem do julgamento do mundo incrédulo (1 Coríntios 6:2). Nesse exato momento o mundo estará maduro e pronto para o juízo final. Esse será o momento do acerto de contas.
 

O significado da mensagem sobre as duas testemunhas

A passagem bíblica sobre as duas testemunhas certamente traz uma mensagem maravilhosa para todos nós. Penso que muita gente, na tentativa de descobrir a identidade dessas duas testemunhas, infelizmente acaba perdendo o prazer de desfrutar do conforto que há nessa passagem para a Igreja de Cristo. Quando se entende que os cristãos verdadeiros, o povo escolhido do Senhor (Judeus e não judeus) com a tarefa de proclamar o verdadeiro Evangelho, é quem são as duas testemunhas, naturalmente o propósito principal da passagem salta aos olhos.
Apocalipse mostra a Igreja na figura de duas testemunhas que incomoda o mundo com seu testemunho. Essa Igreja pode ter sido perseguida e até morta pelo mundo ímpio, porém em Cristo, ela é mais que vencedora. Inevitavelmente haverá o dia em que os fiéis ressuscitarão e reinarão eternamente com nosso Deus. O mundo jamais poderá impedir o encontro entre a noiva e seu Noivo, entre as duas testemunhas e o céu de glória.
 

Conclusão

Algumas pessoas afirmam que as duas testemunhas são literalmente Moisés e Elias ou Elias e Enoque; outras afirmam que são o Antigo e o Novo Testamentos; outras, ainda, que são o céu e a terra. Mas, como vimos, a Bíblia evidencia que as duas testemunhas são a Igreja, composta de oliveira cultivada (judeus) e oliveira brava (gentios) convertidos a Jesus. Após acabarem de dar o seu testemunho, os cristãos (a Igreja, formada por judeus e gentios convertidos – Atos 10:34-35; Romanos 10:12; Efésios 1-2; Gálatas 3:28, etc.) serão perseguidos e muitos deles mortos, mas no final Cristo os ressuscitará e transformará os vivos quando retornar à Terra para o julgamento.
 

Fontes:

 
Quem São as Duas Testemunhas do Apocalipse?
https://estiloadoracao.com/as-duas-testemunhas-do-apocalipse/
 
Quem são as duas testemunhas de Apocalipse 11?
https://defendendoafecrista.wordpress.com/2017/03/21/quem-sao-as-duas-testemunhas-de-apocalipse-11/