O Campo do Oleiro e as Trinta Moedas de Prata

20/01/2023 16:24
                      
 
"Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, Dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi se enforcar. E os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue. E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo de um oleiro, para sepultura dos estrangeiros. Por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, Acéldama (Campo de Sangue). Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias:
“Tomaram as trinta moedas de prata, preço do que foi avaliado, que certos filhos de Israel avaliaram, E deram-nas pelo campo do oleiro, segundo o que o Senhor determinou." 
Mateus 27:3-10
 
Sempre na senda de procurar elucidar e credibilizar a confiança na escritura como a Única e Verdadeira Palavra de Deus, vamos hoje analisar mais uma passagem que algumas vezes suscita dúvidas. São dois os pontos que analisaremos na vertente apologética, visto que se encontram conectados, são eles: 
1) Quem comprou o campo
2) Qual profeta profetizou acerca desse mesmo campo
 

As trinta moedas e o campo de Judas

Primeiramente interessa dizer como curiosidade que 30 moedas era o valor estimado pela compra de um escravo (Êx 21:32) e já no Velho Testamento, 520 anos antes de acontecer, o profeta Zacarias havia previsto com precisão a negociação de Judas. Veremos essa passagem adiante.


1) Mas afinal quem comprou o campo: Judas ou os anciãos e sacerdotes judeus?

Há uma polêmica envolvendo esse tema, tudo porque no livro de Atos 1:15-19, Pedro relata que "Judas adquiriu um campo com o salário da iniquidade”Aceldama, isto é, “campo de sangue". Mas existe confusão pois a escritura em Mateus, também refere o “campo de sangue” comprado pelos sacerdotes com as 30 moedas de prata.
Ora o que se passou aqui é que Pedro assume que o campo é no fundo comprado pelas moedas da venda de Jesus por Judas e não retira a responsabilidade deste último no que fez, ainda que, movido de remorso, Judas tenha atirado as moedas aos sacerdotes. Atos 1:18 simplesmente nos informa que foi Judas que forneceu os meios de comprar o campo. Não se é forçado a concluir que Judas comprou pessoalmente o campo do oleiro.
Como nos escritos e discursos modernos, é muito comum as Escrituras representarem um homem fazendo algo quando, na verdade, ele meramente fornece os meios para fazê-lo. Quer se diga que Judas "comprou um campo com o salário da iniquidade" (Atos 1:18), ou que os principais sacerdotes "compraram com elas o campo do oleiro" (Mateus 27: 7), neste caso declara-se a mesma verdade, somente de maneiras diferentes, não há qualquer conflito.
 

2) Jeremias ou Zacarias?

Mas existe mais um enigma a ser resolvido nesta passagem:
Mateus diz que a profecia da venda de Jesus por trinta moedas, pertence a Jeremias. E não são poucos os que apressadamente afirmam estar incorreta a citação, para esses a profecia pertence a Zacarias e ponto final!
Mas Zacarias 11.12,13 diz o seguinte:
Eu lhes disse: Se acharem melhor assim, paguem-me; se não, não me paguem. Então eles me pagaram trinta moedas de prata.
E o Senhor me disse: "Lance isto ao oleiro", o ótimo preço pelo qual me avaliaram! Por isso tomei as trinta moedas de prata e as atirei no templo do Senhor para o oleiro.

Zacarias 11:12,13
 
Há diferenças significativas entre a passagem de Zacarias e a citação de Mateus. Em Mateus o profeta paga – ou pelo menos dá – o dinheiro da compra e faz com que ele mude o propósito daquela importância: seria para a compra de um campo, em vez de uma doação ao oleiro, tal como em Zacarias. O caso é que a citação, como aparece em Mateus, enfatiza a requisição do terreno. A passagem de Zacarias nada diz a respeito de comprar-se uma propriedade; na verdade, nem sequer menciona um campo.
Todavia, ao voltar-nos para Jeremias 32.6-9, encontramos o profeta adquirindo um campo em Anatote, por determinada importância. O capítulo 18.2 também o descreve na tarefa de vigiar o oleiro, que está fazendo vasos de barro em sua casa. Jeremias 19.2 diz que havia um artífice perto do templo, cujo ateliê ficava no vale de Hinom. O capítulo 19.11 por sua vez diz: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Desse modo quebrarei eu este povo e esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se, e os enterrarão em Tofete, porque não haverá outro lugar para os enterrar”
O "campo de sangue" adquirido pelos judeus, tem a mesma localização do campo citado por Jeremias: Encontra-se em um nível terraço estreito na face sul do vale de Hinom. Seu nome moderno é Hak ed-damm ou Aceldama.

O vale de Hinom era um lugar de sacrifícios pagãos, crianças eram queimadas vivas no vale em oferenda a Moloque. Também chamado de "Tofete" ou "lugar alto" Jr 7:31.
Mas só Jeremias menciona o “campo” do oleiro – que é o principal elemento da citação de Mateus. Portanto, o evangelista está combinando e resumindo elementos do simbolismo profético tanto de Zacarias como de Jeremias.
Mateus combinou vários elementos dessas profecias para dizer o que pretendia. Como Jeremias é o livro profético mais proeminente, Mateus o menciona como fonte da mensagem profética que está transmitindo, desse modo não cita Zacarias. Ele tinha feito o mesmo anteriormente (Mt 5.2), citando outras duas passagens (Mq 5.2 e 2 Sm 5.2). 
Procedimento semelhante temos também em Marcos 1.2,3 que atribui somente a Isaías uma citação de Malaquias 3.1 com Isaías 40.3. Nesse caso também só o profeta mais famoso dentre os dois é mencionado pelo nome, visto ser essa a prática literária do século I a.C., quando os evangelhos foram redigidos. 
Sendo assim, dificilmente os autores do evangelho podem ser acusados de cometerem alguma falta, pelo fato de não seguirem a prática moderna de identificar com precisão e notas de rodapé.
A divisão dos livros proféticos no I século
A tudo isto acresce que há 2000 anos atrás, a divisão do Antigo Testamento era também rotulada de forma diferente. Era prática comum chamar um conjunto de livros pelo nome de um dos livros que ele continha. O Pentateuco (Torá) era chamado de “Moisés”ou "Lei". Os escritos eram rotulados como “Salmos” ou “David”. O mesmo vale para os escritos proféticos. Eles eram chamados de “Isaías” e “Jeremias” que englobariam os livros dos profetas menores de acordo com as suas subdivisões. Em suma, “Jeremias” e “Isaías” serviram de rótulo para todos os profetas, talvez por serem os livros proféticos mais longos. Por tal facto seria normal chamar uma profecia conjunta apenas pelo profeta maior.
 
Não há, portanto, contradição alguma em citar conjuntamente Jeremias e Zacarias como autores da profecia pois é uma profecia conjunta e que se encaixa entre os dois profetas. Mateus apenas omite Zacarias, o que não quer dizer que se tenha enganado ou trocado o nome do profeta.
 

Aceldama e o seu mistério

Mas como sempre estas passagens “mais difíceis” encerram em si mistérios mais profundos. Vamos analisar o “campo de sangue”:
A terra nesse lugar é rica em barro e antigamente seria o lugar preferido dos oleiros para ajuntar a matéria prima de suas peças. A argila da região tem uma coloração forte vermelha. O campo foi utilizado como cemitério para não judeus.
Atualmente no campo, existe um enorme sepulcro e um Monastério, em seu lado sul fica o vale de Hinom (conforme descrito por Jeremias).
 

Mas alguma vez você já se perguntou por que as trinta moedas de prata conquistadas de forma inescrupulosa por Judas Iscariotes compraram o "campo do oleiro"? 

 
É claro que Jesus valia muito mais, infinita e eternamente mais que as trinta moedas! Seu sangue pagou uma dívida que nem todas as moedas do mundo seriam suficientes para pagar! Com Sua vida, Jesus pagou nossos pecados, nossa morte. Ele nos devolveu a liberdade e a vida eterna, aleluia!!

Assim temos no "campo de Oleiro" uma bela analogia: O dinheiro pago por um escravo iria resgatar muitos estrangeiros (escravos do pecado), torná-los livres, novos, moldados, vasos nas mãos do Oleiro Celestial.
O campo, repleto de barro, serviria para sepultamento dos estrangeiros, mas como aconteceu a partir da morte de Jesus, muitos estrangeiros, devido à propagação do evangelho pelo mundo, não seriam mortos, mas sim restaurados como barro nas mãos do Oleiro. O campo de sangue, recebe esse nome, pela cor vermelha da terra e por representar a morte e derramamento de sangue de Jesus. Qual dos lugares pode receber o sangue de Jesus e não ser transformado por Ele?

O sangue de Jesus esteva nas portas das tendas dos israelitas quando da instituição da primeira Páscoa. Esteve representado na porta da meretriz Raabe (em um cordão vermelho) e esteve também profeticamente em Aceldama, no cemitério dos estrangeiros, para a salvação destes!

Nenhum detalhe que envolveu a morte e ressurreição de Cristo foi vão. Da dor da morte e da alegria da ressurreição, a minha e a sua salvação. O "campo do Oleiro" também teve sua mensagem restauradora.
Aleluia
 

Fontes:

QUEM COMPROU O CAMPO DE SANGUE? JUDAS OU OS CHEFES DOS SACERDOTES?
https://leandrodipaula.webnode.page/quem-comprou-o-campo-de-sangue-judas-ou-os-chefes-dos-sacerdotes/
Por que Mateus 27.9 atribui a Jeremias uma profecia de Zacarias?
https://davarelohim.com.br/web/por-que-mateus-27-9-atribui-a-jeremias-uma-profecia-de-zacarias/
O Campo do Oleiro e as Trinta Moedas de Prata
https://www.estudosgospel.com.br/estudo-biblico-evangelico-diversos/o-campo-do-oleiro-e-as-trinta-moedas-de-prata.html
 
Refuting Rabbinic Objections to Christianity & Messianic Prophecies
Eitan Bar